É engraçado como o tempo passa.
Sim, eu sei, dificilmente poderia ter começado com uma frase mais cliché mas desta vez era exactamente isso que eu queria dizer. Foi exactamente isso que eu senti e por isso quero que vocês se lixem, se não gostarem não leiam! :-)
Mas, voltando ao tópico sobre o qual me apetece escrever um bocadinho (e sim, isto é só uma primeira abordagem, e isto é uma promessa - ou uma ameaça, como preferirem), faz uma confusão tremenda rever, de repente, uma data de gente com os quais não estávamos há anos.
Bom, o melhor é explicar um pouco melhor: Estou a falar da reunião da antiga turma 9ºB do Colégio Portugal. Agora a parte engraçada é que esta turma em particular foi a de 1987/88! Pois…
Para colocar as coisas em perspectiva note-se que estamos a falar de pessoas que têm, em geral, 28/29 anos, ou seja, quando esta turma existiu tínhamos metade da idade que temos agora.
E é aqui que a coisa se torna engraçada: eu saí do colégio no ano imediatamente a seguir a esse (bem como uma série de gente) e nunca mais voltei a ver a grande maioria dessas pessoas.
Muitos deles eram meus colegas desde a segunda classe e eu nunca mais os vi.
Como é natural, naquela altura o meu universo girava em torno da escola e dos meus colegas de escola, em particular os colegas da minha turma. A quase totalidade do tempo que estava acordado era passado com pessoas deste grupo e eu fazia tudo para alargar esse período (vêm-me à cabeça os dias de verão em que me levantava lá para as 6h30 para ir ter com um grupinho à praia da Parede para passear pelas rochas, escalar a muralha e, em geral, simplesmente estarmos uns com os outros).
Eu sempre odiei profundamente levantar-me cedo mas há coisas que valem esse sacrifício. Aliás, há coisas que rebaixam esse esforço ao nível de ligeiro incómodo apenas. E quem lá estava certamente não esquecerá os sustos que apanhámos quando um ou outro deslizava a meio da malfadada muralha cheia de verdete (mas, claro que era ali mesmo que dava mais gozo subir), ou da nossa figura de calças molhadas até aos joelhos mas de sapatos secos porque resolvemos ir até ao pico e uma onda apanhou-nos desprevenidos. Felizmente que (como toda a gente sabe) não tem piada nenhuma andar nas rochas da praia calçados…
Com estas pessoas aprendemos toda a espécie de coisas, coisas tão simples como dançar (e até onde se podia descer as mãos), fazer cábulas (mesmo sem necessidade, só mesmo pelo gozo), o sistema de estudo partilhado (eu odeio isto e nunca vou conseguir decorar toda esta porcaria, mas tu dás-me uma mãozinha aqui e eu passo-te àquele teu pesadelo)…
Aprendemos que é muito giro jogar com o pessoal no recreio, mas que ainda é mais emocionante ficar simplesmente a conversar com um grupo de amigos. Aprendemos que jogar snooker é muito fixe (ou frustrante, mas não vamos por aí) mas que passear de mão dada com uma amiga que, apesar de ser apenas isso, não deixa de nos fazer sentir algo de muito intenso e muito bom!
Enfim, estas pessoas ensinam-nos a ser pessoas, enquanto elas também o aprendem.
E, de repente, aparece um amigo com quem nós nem falamos há uns 6 ou 7 anos a dizer “pá, vamos fazer um jantar com a malta toda!”. Ok… malta toda? Duvido mesmo muito, mas claro que respondo logo “Re: Jantar Colegio Portugal - Eu vou!!”.
E é engraçado ver que o pessoal está a aderir… E a lista vai crescendo… E, de repente: 30 pessoas contando com os acompanhantes!
Ah! claro, acompanhantes também! Porque, meus amigos, até os mais novos entre nós já estão casados e já há crianças na história!
Claro que havia pessoal mais velho. Há sempre o pessoal mais velho, mas mesmo esses não são assim tão mais velos e há pessoal casado, pessoal casado com filhos e, num caso que me toca mais fundo, um caso de uma pessoa divorciada e com uma filha já não tão novinha como isso…
É curioso mas uma coisa que nunca me passou pela cabeça até estar a escrever isto foi ter medo. Medo de voltar a encontrar toda aquela gente, de uma só vez, medo de não saber quem eles eram, medo de ficar com saudades… Sim, eu podia ter ficado com medo, havia razões boas para isso, mas esse tipo de sentimento nem passou perto.
E ainda bem. O jantar de reencontro da turma de 97/98 do Colégio Portugal foi uma coisa espectacular! A comida não estava particularmente boa, o serviço foi lento e o preço foi demasiado alto para a qualidade mas isso não importou mesmo nada porque o encontro foi mesmo muito bom!
Claro que não foi como se estivéssemos estado juntos ainda ontém (excepto nos casos em que isso era verdade, eu não deixei de ver toda a gente), mas muito rapidamente as pessoas voltaram a reencontrar aquela facilidade de comunicação que se tem quando se está com alguém todos os dias. E as conversas, necessariamente muito na onda do “conta-me lá como vai a tua vida” não eram conversas vazias, de ocasião, aquelas coisas interessavem mesmo e eu estava mesmo contente por saber que um estava a cumprir o seu sonho de adolescente, e estava mesmo triste de saber que outro estava desempregado e fiquei encantado de saber que uma outra continuava a lutar por vir a ter aquela carreira com que sempre sonhou e que está deliciada com essa luta, mesmo que isso lhe esteja a custar um bocadinho agora.
Embora nunca tenha sido tão extrovertido como um dos meus antigos colegas e amigo que lá estava eu percebia perfeitamente aquela ânsia de pegar ao colo nas meninas e abraçar or rapazes todos sempre com um sorriso maior que o mundo. Eu partilhava aquele sorriso pois, mesmo sem ter visto a maior parte daquelas pessoas durante 14 anos de repente eu senti aquela calorzinho cá dentro de estar entre amigos.
E, no fundo, é mesmo isso que interessa, e só isso. A amizade vale por tudo e dificilmente se consegue estabelecer uma amizade tão pura, tão sincera, tão inocente como na adolescência. E quando se sente o calor dessa amizade ainda presente nas outras pessoas não há como evitar ficar com aquela sensação de que estou a sorrir mais do que consigo expressar e isto é mesmo bom.
Não posso dizer que tenha ficado minimamente nostálgico, não posso dizer que gostaria de voltar àqueles tempos, simplesmente posso dizer que adorei ver toda aquela gente e que se alguma vez tive dúvidas (e penso que nunca as tive), agora posso afirmar com toda a certeza que durante os anos do Colégio Portugal, e apesar de toda a dose de adolescência e todos os problemas reais que tenha tido, fui Feliz.
Mas igualmente importante (senão mais ainda) também posso afirmar que sem sombra de dúvida agora sou verdadeiramente Feliz. Os tempos do colégio foram bons e gosto de os relembrar, mas não gostaria de voltar, mesmo se pudesse, porque agora é melhor (e, sobretudo, mais fácil. A adolescência é fogo!).
Espero que aqueles não partilham dos meus sentimentos (e sei que os há entre aquele grupo) possam faze-lo durante a sua vida. O passado pode ser muito bom (e é desejável que o seja), mas o presente é a única coisa que vale a pena viver hoje.
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Actualização (29 de Janeiro de 2002):
Oops… Ontem fui chamado à atenção por uma das pessoas que esteve no encontro para os efeitos nefastos da (aparentemente ainda presente) rivalidade inter-turmas. Pois claro, quando somos jovenzinhos, com aquela necessidade fortíssima de auto-afirmação acabamos por criar rivalidades por qualquer pretexto. E nada mais próprio para demonstrar essas rivalidades do que o clássico “o meu pai ganha mais do que o teu” ou o sempre apropriado “tenho mais berlindes do que tu e os meus até são mais giros” ou ainda o doloroso (e como) “a minha bicla anda mais do que a tua” (mas pode não travar tão bem.) Depois evoluímos um pouco e passamos a coisas mais sérias e acutantes como por exemplo “a minha turma é melhor do que a tua”. Pois, mas não foi nada disso que me fez escrever que o encontro foi do 9ºB, foi algo deprimentemente mais prosaico: distração pura e simples. De qualquer modo fica feita a correcção: O encontro foi das várias turmas do 9º ano do Colégio Portugal do ano de 87/88 e mais alguns convidados especiais!
Obrigado Menina da Rádio, considera-me devidamente penitenciado! :-)