O Método

Posted on July 4, 2002

A fotografia é, de facto, algo de apaixonante. Sem dúvida. Mas pode ser também cansativo e desmotivante. Não a fotografia em sí, mas o processo utilizado…

Talvez eu deva explicar melhor o que quero dizer: Até agora sempre que tenho rolos novos (já revelados) para imprimir tomei sempre a abordagem de ir para o laboratório e começar a olhar para as provas de contacto (ou para os negativos se não as tiver feito - uma grande parte das vezes) e decidir ali mesmo que vou experimentar esta ou aquela fotografia; Depois faço uma impressão de teste e parece-me que afinal ela até nem é assim tão interessante ou vai ser muito difícil de imprimir e, como eu quero fazer o máximo de fotos possível na sessão, acabo por desistir desta e voltar a olhar para os negativos à procura de outra candidata mais ajustada ao que me apetecer fazer na altura.
Embora este processo funcione de vez em quando -nomeadamente quando tenho negativos muito bons- a verdade é que na maioria das vezes acabo com um monte de primeiras tentativas e com poucas ou –mais frequentemente– nenhumas fotos finais ou semi-finais.
Geralmente isto pode-se dever aos negativos não serem muito bons (sim, ainda tenho muito que aprender em relação ao tirar a fotografia, se calhar mais do que em relação ao trabalho de laboratório, mas adiante…) ou à falta de objectividade na avaliação dos mesmos quando quero decidir em cima do joelho o que vou fazer naquela altura. E quando se trata de fotos de férias, situação em que típicamente tenho bastantes rolos e gostaria de fazer um apanhado de todas as fotos que ficaram suficientemente boas, a coisa piora muito: Ao querer muitas fotos numa única sessão acabo por cair na mesma armadilha com a agravante de que ao chegar ao final sem impressões finais e ao ver o volume de fotos que tenho para fazer acabo por desanimar e não imprimir nada.
Claro que o pouco tempo que consigo dedicar à fotografia é um factor de grande influência em tudo isto, pois ao me aperceber que a sessão se revelou essencialmente inútil e ao saber que provavelmente não terei tempo para voltar a pegar nas fotos tão cedo acabo por me sentir bastante frustrado com tudo isto.

Ora, eis que desta vez resolvi tomar outra abordagem em relação às fotos das férias de lua-de-mel, abordagem essa que me parece resultar bastante bem.
O truque, parece-me estar em 3 factores: Método; Definição de Objectivos e Contenção.
Elaborando um pouco sobre cada um destes temas temos que, em relação ao Método optei por me sentar um dia com todas as provas de contacto à frente (e sim, são mesmo indispensáveis, tenho de perder a preguiça de as fazer) e fazer uma lista de todas as fotos que queria imprimir. Nesta primeira fase, e apesar de ter provas para analisar, não tinha condições para fazer uma escolha definitiva, por isso dividi as fotos em 4 grupos:

  1. As que não me interessava imprimir de todo;
  2. As que me pareciam ter potencial mas que não conseguia avaliar apenas pela prova de contacto;
  3. As que me pareciam ter potencial se as re-enquadrasse;
  4. As que queria imprimir sem dúvidas.

Daqui resultou uma lista razoavelmente grande de fotos das quais tinha certezas em relação a um grupo pequeno e que teria de imprimir pelo menos uma prova de algumas outras para me poder decidir.
Em relação à Definição de Objectivos decidi que em cada sessão teria de avaliar e, caso se justificasse, imprimir no mínimo uma foto. As sessões não devem ser muito compridas pois isso torna-as menos produtivas devido ao cansaço e às dores nas costas que provocam pelo laboratório ser muito pequeno e ter pouco espaço para me mexer e também porque sessões compridas resultam em poucas horas de sono que invalidam a possibilidade de fazer mais sessões nos dias seguintes. Assim optei por passar a fazer sessões de cerca de hora e meia - incluindo setup do material e limpezas no final.
A Contenção diz respeito à tendência que me é natural para gerar uma ansiedade grande relativamente ao trabalho que falta e a tentar fazer sempre mais uma foto ainda nesta sessão. É difícil quando tenho uma prova já bastante boa resistir à tentação de aceitá-la assim como está e passar para a próxima foto, mas isto gera provas de qualidade inferior pois por vezes uma ou duas provas adicionais conseguem fazer uma diferença subtil mas importante numa foto.

De tudo isto resultou que na primeira sessão (segunda feira, dia 1) imprimi as primeiras provas de 4 fotos, uma das quais, por sorte, ficou tão boa que ficou já final e pude já avaliar as outras 3 (desisti de uma e resolvi aumentar o contraste nas outras duas). Esta sessão durou cerca de hora e meia, como pretendia e foi das sessões mais proveitosas que já fiz!
Hoje fiz uma segunda sessão e consegui terminar as 2 fotos que comecei na sessão anterior (ajustes de contraste e algum burn-in em ambas o que me deixou com pelo menos duas provas de cada foto entre as quais não é muito fácil escolher, mas isto ficará para depois… :) ) bem como imprimir uma foto mais das que eram garantidas (um caso em que a Contenção compensou claramente, resolvi fazer só mais uma prova para testar um burning-in algo duvidoso em vez de fazer a primeira prova da foto seguinte. O burn-in revelou-se excelente e acho que aprendi uma técnica nova muito útil).

Em resumo, penso que descobri a maneira de maximizar o prazer que retiro de fazer fotografia (na vertente de laboratório, pelo menos) enquanto estou a garantir que finalmente vou ter álbuns decentes e completos de férias (o álbum que comprei em Paris especialmente para estas fotos vai ficar mesmo giro!). É curioso que para eu conseguir tirar o máximo prazer das coisas tem sempre de haver alguma ordem e método por detrás delas… Enfim, feitios.